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Arte: Fabio Domingues |
Ando fugindo das rodas de conversa. Ultimamente está difícil
manter uma “boa prosa”, como se dizia antigamente. Todo mundo acha que sabe
tudo de tudo, todos têm opiniões formadas para todos os assuntos, como se
conhecessem desde física quântica até, o porquê cabrito defeca em bolinhas. Por fim,
não se conversa, apenas ouve-se o “outro” do diálogo expressar sabedoria, todo
mundo virou uma enciclopédia ou o Google.
As pessoas querem apenas platéia para ouvir suas histórias e
não ligam a mínima para o que você está dizendo. É muito fácil perceber isso, é
só você notar quando você estiver contando alguma coisa: 1) se a pessoa comenta
sobre o que você disse ou 2) se ela atropela sua história contando a versão
dela (que é sempre maior e melhor que a sua), se for a segunda opção, batata,
ela não deu o mínimo pra sua história.
Fora os temas das conversas.
Outro dia tentei conversar com um grupo de jovens: rolou só Iphone, Instagram, facebook, funk
ostentação(pode isso?), sertanejo universitário (como se isso não fosse
contraditório) - e por aí foi. Saí da conversa sem entender nada, pois, apesar de estarem falando sobre esses assuntos não havia conteúdo!
Papo de futebol então, não consigo mais. Não entendo o que
muda na minha vida se o Neymar ganha mais que o Cristiano Ronaldo ou o Messi.
Outro dia presenciei essa discussão, os debatedores ficaram mais de uma hora
nessa difícil tarefa de provar ao outro quem ganhava mais. E o pior, não
conseguiram.
Outra coisa que me irrita profundamente é a malicia com que
as pessoas encaram tudo na vida. Outro dia estava perto de um grupo de
mulheres, já mais vividas, e tive de sair à
francesa, roxo de vergonha. Tudo na conversa delas tinha conotação sexual.
Mas
não desisto tão facilmente, ando a procura de bons papos, onde se aprende ao
mesmo tempo em que se diverte.
Lembro das rodas de bate-papo de quando era criança. A
família se reunia em torno do fogão de lenha, na casa de minha avó e ali surgia
todo tipo de história. Às vezes eu não conseguia dormir sozinho com medo das
histórias de assombração, outras vezes sonhava como eram heróis os meus tios e
seus amigos, com as histórias de caçadas e pescarias pelas matas afora. Tudo
era mágico (ou eu vivia no ‘Fantástico Mundo de Bob’) e a maioria das pessoas aceitava
as lendas e fantasias como verdade. Anos mais tarde, já adultos, perguntamos ao
meu avô o que tinha acontecido com os lobisomens, assombrações,
mulas-sem-cabeça, sacis e tantos outros seres fantásticos com os quais ele
tinha se deparado pela vida, e ele na sua simplicidade respondeu: “há, o
caminhão matou tudo”. Sem saber ele deu uma resposta perfeita para o fenômeno
da modernidade que está acabando com as lendas, crenças e tradições.
Voltando ao tema desta crônica. Sempre estou atento às boas
conversas e fujo, como o diabo da cruz, das conversas chatas. Quase sempre acabo
recorrendo aos livros, excelentes companheiros para horas de entretenimento.
Às vezes entro nos chats, bate-papo virtual das tantas redes sociais da internet. É até bom, porque se alguém te chateia você
simplesmente desliga e pronto. Mas a qualidade das conversas também deixa a
desejar. Parece que as pessoas dizem qualquer coisa apenas para ficarem
conectados. Às vezes têm um monte de pessoas falando entre si, vira uma torre
de babel de baboseiras.
Enfim, sou precavido, estou pesquisando sobre amigos
eletrônicos.